21.9.08

E na cozinha...


Sempre gostei de cozinhar, inventar, inovar e testar pratos novos. Sempre gostei de convidar os amigos para um jantar especialmente feito por mim. A cozinha brasileira tem um menú tão vasto que nunca me preocupei em aprender outras coisas. Assim, ia me divertindo entre feijoadas, muquecas, coxinhas e outras comidas verde-amarelas.



Quando cheguei na Itália sabia fazer poucas variantes para o molho do macarrão e para agravar a situação, o meu marido vem de uma família tradicional italiana - onde a mãe faz os sugos elaborados, com cura e no maior capricho. Fazer comida brasileira naquela época era algo exótico demais, como italiano D.O.C., ele queria "pasta asciutta" todos os dias! Exigente é pouco, ele era rigososo no quesito "mangiare". Era quase engraçado, pois ele comia e ficava comparando o gosto da minha comida com o da mãe dele, dizia quase sempre com precisão o ingrediente que faltava e me dava dicas de como preparar o prato na próxima vez. E não é que ficava mais gostoso?

É preciso paciência e dedicação quando se trata da cozinha italiana, os sugos devem ser cozidos por horas ou não adquirem o gosto justo. O nosso bolonhesa, aqui na Itália também conhecido como "ragù", deve ficar ao menos 2 horas em fogo baixo e eles misturam carne de boi, de porco e figado de coelho - para dar mais sabor e consistência. É preciso tempo para elaborar um jantar, mas tempo mesmo precisamos para fazê-lo!

Mas o problema no início era que eu não tinha criatividade, não sabia muito sobre a cozinha italiana e seus segredos. Assim, cozinhar começou a se transformar em um drama cotidiano. Aquele lugar onde eu me sentia à vontade começava a me causar pesadelos. Pela manhã Sam ia trabalhar e eu passava horas sentada, olhando o infinito e tentando pensar a algo de novo e gostoso para o almoço. Quanto mais se aproximava a hora de comer, mais nervosa e ansiosa eu ficava.



O que fazer hoje?
Será que ele vai gostar?

Será que é assim que se faz?
Será que vai ficar bom?

Enfim, comecei a pedir ajuda à senhora da botega de alimentos embaixo de casa. E escutava atenta aos seus conselhos para não errar nem uma vírgula quando fosse preparar o prato em casa. Claro que o macarrão com "acciughe sotto sale" não foi uma boa idéia!!! Esqueci de lava-la para retirar o sal e o resultado foi que tivemos que beber litros e litros d'água durante todo o dia. Depois deste e outros pequenos desastres, resolvi investir nos livros de receita e então passava horas na banca de jornal para escolher algumas revistas que me pudessem ajudar na cozinha.

Assim minhas manhãs começaram a ter outros sabores, folheava cada revista com atenção para escolher o menú do dia.


Como vocês devem saver, na Italia não tem o prato único como no Brasil. Comer para o italiano é como um ritual, não é como para o brasileiro que senta na mesa e faz festa; o italiano senta na mesa para comer e não para conversar! É preciso se preparar para sentar em uma mesa italiana, tem várias etapas a serem superaradas: quando você chega vai deliciar uma "anteprima" do jantar com o "antipasto" (se serve antes da refeição como aperitivo), depois você senta e saboreia o "primo piatto" (o primeiro prato é a massa), geralmente já com a barriga cheia deve encarar o "secondo piatto" (o segundo é a carne, seja branca ou vermelha) e o "contorno" (verduras e legumes que acompanham a carne). Mas ainda não acabou, tem o "dolce"! Então você não pode fazer desfeita, mesmo com a "panza" cheia, sem sacrificio se para encarar o doce! É de tradiçao comer o doce após as refeições, acompanhados de licores, limoncellos e espumantes. E nem pense em recusar algo porque é realmente uma grande ofensa!!



Toda vez que vou a casa de alguém, me levanto da mesa sentindo pesar uma tonelada, os botões da calça parecem arrebentar e eu mal conseguo caminhar. Bate aquela moleza no corpo e o melhor lugar para se estar é... no sofá ou na cama! Mas foi graças a estes rituais golosos que aprendi receitas italianas deliciosas e fiz as pazes com a cozinha tricolor. Me divirto ao convidar os amigos para um jantar ou almoço, faço um menú completo e tipicamente italiano. Sem falsa modéstia, de lamber os beiços!



E quanto à comida brasileira? Bem, aos poucos fui acostumando Sam ao feijão com arroz. Hoje ela faz parte do nosso dia-a-dia e ele gosta; afinal, não posso comer macarrão no almoço e no jantar, é demais! Então, sempre que posso deixo a casa com cheirinho verde-amarelo e Sam adora!! E nossos amigos também.



.

17.9.08

Quando a solitude se transforma em solidão...

.
Solitude é estar só, mas não solitário.
É estar só, mas com plena capacidade
de estar em comunhão consigo mesmo...



Aprendi a conviver, a apreciar e a curtir a solitude. Gosto de estar sozinha comigo mesma, lendo um livro, pintando, dançando ou escrevendo. É um momento todo e só meu! Onde posso dedicar o tempo a mim mesma, sem me preocupar com o próximo.



Mas e quando a solitude se transforma em solidão, o que fazer?

Às vezes tento deixar tudo para trás, ignorar e seguir em frente. Estou tentando, mas não tem sido fácil!

Mas não posso perder a fé que um dia tudo isso vai realmente ficar... para trás!

"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, PORQUE TU ESTÁS COMIGO...". (Salmos 23.4)

.