22.5.12


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Duas pessoas se conhecem, nasce algo entre elas. Imagine que elas passam a ser ligadas por um fio bem longo e flexível... Elas começam a caminhar juntas, lado a lado... Este fio os mantem juntos, unidos, ligados um ao outro no bem e no mal, na alegria e na tristeza.

Sonhos, planos, a vida fica rosa... Mas os dias passam e em meio a mimos e chamegos eles também têm tantos problemas a serem resolvidos, obstáculos a serem superados, crises a serem passadas... e sem que se deem conta a distância entre eles vai aumentando e aquele fio transparente que os une vai se esticando.

... Anos passam.

Sem união, respeito e cumplicidade o casal vai se afastando cada vez mais; seguindo direções opostas e não mais de mãos dadas, juntos no mesmo sentimento. Se descobrem querendo coisas diferentes, a relação vai se desgastando e a linha via perdendo a elasticidade. E estica cada vez mais, e mais, e mais... Até que perde todo seu vigor, toda sua cor, toda sua força e... Um dia ela arrebenta!

Assim é o amor; esta linha imaginária que une duas pessoas. Andar lado a lado, acordar todo dia e renovar o querer, ficar feliz com o outro, planejar um futuro junto, enfrentar as crises e problemas de mãos dadas.

O amor é como um violão a ser afinado; para extrair a sua linda melodia e ter harmonia é preciso ter muito cuidado, paciência pois as cordãs são sensíveis e se muito esticadas podem ceder, arrebentar. Um sentimento lindo que se não for bem cuidado pode se perder no caminho, fica doente, se cansa, se desgasta até acabar.

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20.5.12

Texto para uma separação




Olhe aqui, olhos de azeviche
Vamos acertar as contas
porque é no dia de hoje
que cê vai embora daqui...
Mas antes, por obséquio:
Quer me devolver o equilíbrio?
Quer me dizer por que cê sumiu?
Quer me devolver o sono meu doril?
Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?
Quer me deixar na minha?
Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?
Olhe aqui, olhos de azeviche:
Quer parar de torcer pro meu fim
dentro do meu próprio estádio?
Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?
Vem cá, não vai sair assim...
Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?
Assim: agora fica de joelhos
e comece a cuspir todos os meus beijos.
Isso. Agora recolhe!
Engole a farta coreografia destas línguas
Varre com a língua esses anseios
Não haverá mais filho
pulsações e instintos animais.
Hoje eu me suicido ingerindo
sete caixas de anticoncepcionais.
Trata-se de um despejo
Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.
Pronto: última revista
Leve também essa bobagem
que você chamou
de amor à primeira vista.
Olhos de azeviche, vem cá:
Apague esse gosto de pescoço da minha boca!
E leve esses presentes que você me deu:
essa cara de pau, essa textura de verniz.
Tire também esse sentimento de penetração
esse modo com que você me quis
esses ensaios de idas e voltas
essa esfregação
esse bob wilson erotizado
que a gente chamou de tesão.
Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!
Estou calma. Quero ficar sozinha
eu co'a minha alma. Agora pode ir.
Gente! Cadê minha alma que estava aqui?
Elisa Lucinda

11.5.12

Vai de caminhão ou bicicleta?



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(foto: Anne Valente; Praia do Forte/Cabo Frio)

Há pouco tempo, conversando com a dona de um salão de beleza qe funcionários e clientes costumam descrever como uma pessoa leve, perguntei o que estava por trás daquela leveza... Conceição respondeu:
"Tem gente que vem pro mundo de caminhão e tem gente que vem de bicicleta. Eu sou da turma da bicicleta."

Acostumada a arrastar baús cheios de ansiedade e de medos, tive certeza, naquela hora de que estava na outra turma: a das carretas com excesso de carga, que trafegam perigosamente por estradas sem acostamento.  Foi ai que decidi que era hora de mudar de vida. Uma reflexão sobre a possibilidade de se viver de forma menos complicada, carregando menos peso.

Não falo aqui sobre a leveza que aliena e nos condena à superfície. "É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma", disse o escritor francês Paul Valéry. A pluma flutua - um voo sem plano, sem direção, sem desafios. Os pássaros riscam o ar com precisão, colocam a leveza a serviço do existir. Uma pedra pode interromper o voo, mas até que isso aconteça as asas sabem onde e como ir.

Quando penso na leveza, penso na possibilidade de sermos pessoas capazes de deixar o mundo menos opaco, menos pesado, menos inerte. O peso da alma afeta profundamente a pessoa que o carrega - ainda que não perceba. Seres que passam a vida arrastando correntes são infelizes. A vida inclui angústia, tristeza, inseguranças, a precariedade da existência. Mas que possamos fazer deste mundo um lugar menos complicado, menos estressante, em que seja possível conviver com mais cordialidade e menos impaciência, e aprender a nos respeitar e nos conhecer.

Por isso a leveza que proponho aqui é aquela que reconhece a existência das sombras e as incorpora. Aquela que admite que a vida é barra-pesadissima e que nem sempre é possível ver um lado bom no que nos desgasta, nos amedronta, nos faz sofrer. Mas que, mesmo enquanto estivermos tristes, ansiosos ou deprimidos, possamos ser pessoas que não abrem mão da civilidade, da compaixão e do mínimo de elegância para conviver... Não sair pelo mundo sem bagagem. É, simplesmente eliminar o excesso de peso.

(do livro A Arte de Ser Leve, Leila Ferreira - Editora Globo)

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5.5.12

Soneto pela metade


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Trinta e oito anos, muitas mudanças... decisões importantes, ânsias.
Os fatos inevitáveis, situações delicadas em momentos vuneráveis.
O brilho dos meus olhos um pouco apagados, a luz do dia e seus tons pálidos...
O calor de um afago que não existe, o transbordar de um coração que bate triste.

Trinta e oito anos e repensar a vida, as escolhas, se redescobrir, esquecer dúvidas.
Os sinais que o tempo marca em meu corpo, inseguranças descabidas e reais...
O inverno frio do lado vazio da cama, minha história em ideograma.

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