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Vasculhando meus arquivos no Word... encontrei este texto que o Jabor publicou no jornal para o Dia Internacional da Mulher. Tudo bem, já se passaram 2 meses desde 08 de março... mas acho super válido compartilhar com vocês.
Beijo no coração
No dia Internacional da Mulher, várias amigas me pediram:
“Escreve, escrevesobre a mulher!”
O psicanalista Lacan disse que a Mulher não existe, pois não
há alguma coisa que as unifique. Acho que ele inha razão. Eu nunca conheci A
Mulher. Eu já amei e odiei “mulheres. Então, por que esse título genérico¿
Existe a mulher de burca, a stripteaser, existe a freira, a bondosa, a malvada,
existe Eva e Virgem Maria.
Sempre que chga esse Dia Internacional, nós machistas
elogiamos o lado “abstrato” das fêmeas, sua delicadeza, sua caacidade de perdão
(sic), sua coragem, em textos de hipocrisia paraternalistas, como se falássemos
de pobres, de crianças. As mulheres foram e são oprimidas e estupradas na alma
e no corpo.
N Oriente e na África vemos o auge da violência>
castrações, estupros impunes, pais condenando filhos, tudo de horrivel. Mas no
resto do mundo sobrevivem muitas formas mais sutis de opressão e desprezo.
Uma leitora, que se disse “perua ineligene” me escreveu:
“Antes, as mulheres eram escravas passivas, hoje somos ativas, mas continuamos
escravas. Mesmo sendo frígidas, temos de prometer “funcionamento”. Não é por
acaso que eles nos chamam de ‘aviões’. É só olhar as revistas masculinas. O que
está acontecendo no Brasil e a libertação da mulher objeto. A publicidade é
toda em cima de sexo.”
É verdade, penso eu: muita mulher que se sente livre é
enganada. Na mídia, só vemos estímulos para as mulheres buscarem a bunda
perfeita, bundas ambiciosas querendo subir na vida, bunda com vida própria,
mais importantes que suas donas, próteses de silicone, sucesso sem trabalho,
anúncio de cerveja com louras burras, mulheres divididas entre a “piranhagem” e
a “peruice”, sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos de ganso de
manequins. A bunda é a esperança de milhões de Cinderelas. O corpo tem de dar
lucro. As mulheres querem ser disputadas, consumidas. Ficam em acrobáticas
posições ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza e,
depois, saem felizes com uns bigodinhos verticais que lembram o Hitler ou
Sarney. A liberdade de mercado produziu o mercado da “liberdade”.
A mulher não é um enigma. Nõs é que somos, disfarçados de
sólidos. Os homens são óbvios, fálicos.
As mulheres não sabem o que querem, o ohomem acha que sabe.
O masculino é certo; feminino é insolúvel. A mulher deseja o impossível.
Desejar o impossível é sua grande beleza.
A mulher precisa do homem impalpável. As mulheres êm uma
queda pelo canalha (cartas indignadas para a Redação), O canalha é mai amado
que o bomzinho. Ela sofre com o canalha, mas o canalha lhe dá um sentido claro
com sua viril antipatia. Claro que é um preconceito também essa mania de
dizermos que as mulheres são “incompreensíveis” (mesmo Freud). Mas essa
confusão na cabeça das mulheres não é maluquice ou psicose; nessa confusa
cabeça há uma verdade indeterminada mais profunda do que as ilusões masculinas.
Homem em um “fim”. Mulher abre-se num horizonte com muitos sentidos e está
sempre equivocando o homem. Lembrando-me de quem amei, vejo que elas queriam
ser “descobertas” para elas se conhecerem. Queriam ser decifradas pelos homens,
por nossas mãos e bocas. Uma grande submissão a elas só as tornava mais
desoladas, raivosas. Muitas vezes, cometi esse erro e dancei.
Elas ventam, chovem, sangram, elas tem inverno, verão, TPMs,
raiam de manhã o brilham à noite, elas derrubam homens como terremotos. Elas
querem ser decifradas por nós, ms nunca acertamos no alvo, pois não á alvo, nem
mosca!
Daí o ódio que os primitivos cultivama contra elas, dái os
boçais assassinos do Islã apedrejando-as até a morte, dái os mitos negros como
Lilith ou Jezebel (até Eva) ou ladies da morte como Macbeth.
O único grande mistério talvez seja a divisão entre os
sexos. Por mais que queiramos, nunca chegareos lá. Lá onde¿ L´na diferença
radical onde ora o “outro”. Há alguns exploradores: os veados, sapatóes,
travestis, que mergulham nesse mar e voltam de mãos vazias, pois nunca
saberemos quem é aquele se com útero, seios, vagina, aquele ser maternal, bom,
terrível quando contrariado no “ponto G” da alma. Por outro lado, elas nunca
saberão o que ún pênis pendurado, um bigodão, a porrada num jogo do Flamengo,
um puteiro visitado de porre, nunca saberão do desamparo do macho em sua frágil
grossura. Elas jamais saberão como somos. O amor é a tentativa de pular esse abismo. Eu sou
hoje o que as mulheres fizeram comigo ou o que eu aparendi com elas, no amor ou
no sofrimento. Eu descobri defeitos e
qualidades que me formaram, como acidenes que me foram desfigurando. O que
aprendi com elas¿ Não tenho idéia, mas sei que me mudaram. Eram como
quebra-cabeças: ao tentar armá-los, eu achava que sabia tudo, mas entrava em
novos labirintos. Com elas, oucas, sóbrias, boas e más, descobri que não tenho
forma nem lógica e que sempre me faltará uma peça na charada.
Existe alguma coisa que as unifique em uma identidade geral¿
Não sei, mas parece que elas estão muito
mais próximas de nós da realidade múltipla do mundo atual, aberto, sem futuro
ou significado. Mas não é como vitimas que devemos lamentá-las ou louvá-las. Elas
não caminham em busca de um “sentido” único, de um poder brutal. O homem se crê
acima do mistério, mas as mulheres estão dentro. São impalpáveis como a
realidade que o homem “pnsa” qe controla.
O Dia Internacional da Mulher devia estimular uma ação política
das mulheres, não apenas para defender seus direitos, mas para condenar a
civilização de machos boçais que destroem nosso destino.
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