7.11.08

O dualismo do amor


Os taoístas contam que, no início dos tempos, o Espírito e a Matéria travaram entre si um combate mortal . Finalmente o Espírito triunfou - e a Matéria foi condenada a viver para sempre no interior da Terra. Antes que isto acontecesse, porém, sua cabeça bateu no firmamento, e reduziu a pedaços o céu estrelado.
A deusa Niuka saiu do mar, resplandecente em sua armadura de fogo; fervendo as cores do arco-íris num caldeirão, foi capaz de recolocar as estrelas em seu lugar. Mas não conseguiu encontrar dois pequenos cacos, e o firmamento ficou incompleto.
Segundo os taoístas, aí começa o dualismo do amor: sempre existe uma alma percorrendo a Terra, em busca de sua Outra Parte, para que ambas possam se encaixar no pedaço vazio do céu - e, desta maneira, completar a Criação.

(Paulo Coelho, Blog Arquivo G1)





- O que é a Outra Parte? – insistiu Brida.

- Somos eternos, porque somos manifestações de Deus – disse Wicca. – Por isso passamos por muitas vidas e por muitas mortes, saindo de um ponto que ninguém sabe, e nos dirigindo a outro ponto que tampouco sabemos.

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Em certas reencarnações, nós nos dividimos. Assim como os cristais e as estrelas, assim como células e as plantas, também nossas almas se dividem. “A nossa alma se transforma em duas, estas novas almas se transformam em outras duas, e assim, em algumas gerações, estamos espalhados por boa parte da Terra.”

Fazemos parte do que os alquimistas chamam de Anima Mundi, a Alma Mundi, a Alma do Mundo - disse Wicca, sem responder a Brida – Na verdade, se a Anima Mundi fosse apenas se dividir, ela estaria crescendo, mas também ficando cada vez mais fraca. Por isso, assim como nos dividimos, também nos reencontramos. E este reencontro chama-se Amor. Porque quando uma alma se divide, ela sempre se divide numa parte masculina e numa parte feminina. “Assim está explicado no livro do Gênesis: a alma de Adão dividiu-se, e Eva nasceu de dentro dele.” ... “Em cada vida temos uma misteriosa obrigação de reencontrar pelo menos uma dessas Outras Partes. O Amor Maior, que as separou, fica contente com o Amor que as torna a unir.”

- E como posso saber que é a minha Outra Parte? Ela considerava esta pergunta como uma das mais importantes que fizera em toda a sua vida.

Era possível conhecer a Outra Parte pelo brilho nos olhos – assim, desde o inicio dos tempos, as pessoas reconheciam seu verdadeiro amor. A Tradição da Lua tinha um outro processo: um tipo de visão que mostrava um ponto luminoso acima do ombro esquerdo da Outra Parte.

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“Somos responsáveis pela Terra inteira, porque não sabemos onde estão as Outras Partes que fomos desde o inicio dos tempos; se elas estiverem bem, também seremos felizes. Se estiverem mal, sofreremos, ainda que inconscientemente, uma parcela dessa dor. Mas, sobretudo, somos responsáveis por reunir de volta, pelo menos uma vez em cada encarnação, a Outra Parte que com certeza irá cruzar o nosso caminho. Mesmo que seja por instantes, apenas; porque esses instantes trazem o Amor tão intenso que justifica o resto de nossos dias.” ... - Também podemos deixar que nossa Outra Parte siga adiante, sem aceita – la, ou sequer percebê-la. Então precisaremos de mais uma encarnação para nos encontrar com ela. “E por causa do nosso egoísmo, seremos condenados ao pior suplício que inventamos para nós mesmos: a solidão.”


(parte extraida do livro Brida, Paulo Coelho)

Amore mio, procurei por você em tantos lugares, em tantos olhares, nos meus sonhos... Agora eu sei que minha outra parte é mais que minha metade, é todo meu amor!

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